Só quero desejar não ter que te enxergar sofrendo como sofri... Foi a minha morte lenta, e suave, foi a minha culpa por todos os meus pecados, foi a minha dívida eterna com alguém. Se eu já te dei a liberdade e paguei com toda a minha dor, porque não consigo ainda ter minhas asas de volta?
O acaso trás e leva embora, e a princípio parece ser bem mais fácil trazer do que levar, e é por isso que não consigo mais voar.
Se você soubesse a dor, o frio, o medo, a revolta que existe em mim por não poder fazer mais nada, enfim, você não sabe por que nunca contei e nem posso. Você não sabe por que nunca conseguiu respirar meu bendito ar!
O meu estranho ar não é mais o meu tesouro, e apesar de ter feito tudo o que podia, o estranho anjo roubou as minhas asas... Sonhei demais, chorei demais, cresci demais, mas não voei.
Quando eu percebi estava passeando pela máquina do tempo pra tentar recuperar o que nunca si quer tive.
O grande problema é quando a nossa memória já não nos pertence mais, porque ela simplesmente nos largou em momentos que não irão voltar.
Apesar da busca incessante pelas minhas lembranças irrecuperáveis do meu “eu” solitário, enquanto eu respiro o “meu” ar, eu também tento esquecer algo, acho válido passar por cima de tudo pra ser feliz, mas porque parece tão difícil deixar de lembrar o estranho?
A vida deu voltas, o tempo passou e o coração desacelerou um pouco, a verdade aparece em fragmentos até se chegar num ponto em que existe um fim...
É tão incrível como as formas do “tempo” tomam conta dos nossos sentidos. Somos pessoas livres nas ações e nas direções que tomamos, podemos até dar conselhos e sem sermos vistos erramos... Acordei essa manhã pensando em outra pessoa, no que ela poderia estar fazendo, nas decisões que ela estaria tomando, e se eu poderia intervir de alguma forma... é intrigante nos comprometermos com estranhos e os tornar tão íntimos, é como respirar um ar que não é nosso, mas não importa. Respiro! É como ter um tesouro único, e chamar de “meu”. Esses estranhos...
(Por Mariana Alvarez)